"Je suis Charlie"
«Não se percebe a gabarolice dos estúpidos assassinos quando gritaram "Matámos a Charlie Hebdo".
Não se pode matar a Charlie Hebdo. Não se pode matar a valente e hilariante revista que goza com tudo e com todos desde os tempos em que se chamava Hara-Kiri. Muitos poderosos tentaram censurar os satíricos da Charlie Hebdo. Nunca conseguiram. Nunca conseguirão.
O
que se pode matar é a liberdade de expressão. Ou reforçá-la: foi o que
fizeram os estúpidos assassinos que reagiram a desenhos satíricos
massacrando os autores com metralhadoras. Desencadeou-se imediatamente
uma onda de solidariedade francesa e internacional para reafirmar a
liberdade de expressão.
Os mais perigosos inimigos da liberdade de
expressão são pessoas inteligentes e bem-intencionadas que publicamente
pedem tratamento especial para a religião islâmica (ou qualquer outra
religião) para não "ferir susceptibilidades" ou "fazer provocações". São
pessoas liberais que defendem calmamente a protecção das sensibilidades
muçulmanas através da violação da liberdade de expressão, por muito
civilizada e politicamente correcta que seja a forma de censura que
propõem.
Mostraram-se quando foi o caso de Salman Rushdie e
mostrar-se-ão outra vez dentro em breve. Quem será o primeiro idiota
entre nós a dizer que a culpa foi dos assassinados da Charlie Hebdo? Tem todo o direito de dizê-lo. É isso a liberdade de expressão. Ser-se estúpido também é um direito. Até os assassinos o têm.»
Miguel Esteves Cardoso, Público, 08/01/2015
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